Que honremos o fato de termos nascido, e que saibamos desde cedo que não basta rezar um Pai-Nosso para quitar as falhas que cometemos diariamente. Essa é uma forma preguiçosa de ser bom. O sagrado está na nossa essência, e se manifesta em nossos atos de boa-fé e generosidade, frutos de uma percepção profunda do universo, e não de ocasião. Se não estamos focados no bem, nossa aclamada religiosidade perde o sentido.
Que se perceba que, quando estamos dançando, festejando,
namorando, brindando, abraçando, sorrindo e fazendo graça, estamos homenageando
a vida, e não a maculando. Que sejam muitos esses momentos de comemoração e
alegria compartilhados, pois atraem a melhor das energias. (...)
Que estejamos sempre abertos de forma a possibilitar uma
entrada de luz pelas frestas. Que nunca estejamos lacrados para receber o que a
vida traz. Novidade não é sinônimo de invasão, deturpação ou violência. (...)
Que tenhamos com a morte uma relação amistosa, já que ela
não é apenas portadora de más notícias. Ela também ensina que não vale a pena
se desgastar com pequenas coisas, pois no período de mais alguns anos estaremos
todos com o destino sacramentado, invariavelmente. Perder tempo com picuinhas é
só isso, perder tempo.
Que valorizemos nossos amigos mais íntimos, as verdadeiras
relações para sempre. Que sejamos bem-humorados, porque o humor revela a
consciência da nossa insignificância - os que não sabem brincar se consideram
superiores, porém não conquistam o respeito alheio que tanto almejam.
Que nosso Deus, seja qual for, não nos condene, não nos
exija penitências, seja um amigo para todas as horas, sem subtrair nossa
inteligência, nosso prazer e nossa entrega às emoções que nos fazem sentir
plenos. A vida é um presente, e desfrutá-la com leveza, inteligência e
tolerância é a melhor forma de agradecer - aliás, a única.
Por
Martha Medeiros
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