EU ESTOU CERTO E O OUTRO ESTÁ ERRADO


“Agora sempre acha ruim meu jeito /
Quando me olha só vê defeito /
Tudo o que eu faço tá sempre errado / (...)
Me diz que é só mais uma briga de casal (...)”.
(HENRIQUE e JULIANO, 2016)

Contudo, é aí que nem sempre se calcula o risco dessas brigas de casal. Assim começa a história.
O domínio por parte de um dos membros do casal permite que o mesmo permaneça no poder de decisão sobre a vida do outro. Tal controle faz com que a pessoa se submeta, aceite as brigas, acreditando que é apenas uma briga de casal, e logo provoca-se uma perturbadora visão de uma interpretação errônea.
Em todos os casos, ambos se sentem injustiçados e tornam-se hostis entre si, com a sensação real de que quem começou a briga foi “o outro”.
É nesse momento que tendem a falar e fazer “coisas” que nunca pensariam. Então como posso saber se sou eu que estou provocando ou se é a outra pessoa que está me provocando?
A verdade é que queremos como resposta que seja o outro que me provoca, ou seja, desejamos nos livrar da culpa, porém, a responsabilidade é dos dois.
Esse jogo de hostilidade e de provocação é feito a quatro mãos. No conflito, um provoca e o outro aceita. Não há um originador. O que existe é um acordo inconsciente entre duas pessoas. É um gatilho emocional, um olha para o outro (no silêncio) e pensa: se você me provocar, eu aperto o gatilho. A partir daí, é que se inicia toda a problemática.
Os casais se provocam, um faz com que o outro seja inconscientemente hostil, enquanto se mantém conscientemente provocadores. O que acontece é que um causa uma situação onde a outra pessoa, que não terá escolha, a não ser se defender, torna-se também hostil.
A consciência é um fator preponderante, e é necessário perceber o jogo perverso. No meio desse processo, existe algo que é comum aos dois, ou seja, um caminho onde um ataca o outro. É como se um criasse uma situação ruim e oferecesse ao outro, gerando sentimentos como a raiva.
Esse jogo não tem herói nem vítima. Quem provocou? Quem foi hostil? Não importa, a hostilidade é oferecida devido a uma dor inconsciente e transferida para o outro. Quem começou? NÓS.
Para sair desse ciclo vicioso de provocar e ser provocado, é importante a compreensão desse assunto. É preciso identificar a sua vulnerabilidade para alcançar o equilíbrio e chegar a um acordo com o (a) parceiro (a).
É espantoso o modo como as pessoas não conseguem encontrar um caminho para lidar com as emoções primárias: mágoa, anseios não realizados, tristeza, desapontamentos, necessidades afetivas, que embasam as emoções decorrentes da raiva e frustração. 
Por isso, às vezes não é fácil fazer esse caminho de autoconhecimento sozinho. É preciso buscar ajuda de um profissional, um terapeuta habilidoso, que entenda esses processos e possa acompanhá-lo(a).
Avaliar o momento em que está seu relacionamento é um ato importante, porque se estiver em uma fase ruim, a tendência é que qualquer situação poderá fugir do controle.
Lembre-se que saber quem está certo (a) ou errado (a) é pura ilusão, porque se trata de um processo inconsciente, de mão dupla, e produz reações em cadeia.
Se você examinar com profundidade o motivo verdadeiro que te deixou magoado (a) e te levou à provocação, deixará de considerar a sua mágoa como prioridade, poderá reagir de uma forma nova e lidar com essa dor de maneira diferente, percebendo que ela diminuirá.
Um relacionamento saudável inclui autoconhecimento, respeito, empatia, compreensão profunda e esforço contínuo para que dê certo e seja de fato promissor.



HENRIQUE e JULIANO. Brigas de Amor. Recife: Som Livre, 2016. Disponível em: https://youtu.be/x-pi3-NPZyc. Acesso em 29 abr. 2020.



Por


Rejane Romero
Pedagoga
Assistente Social
Palestrante
Especialização em Psicologia dos Distúrbios de Conduta
Mestre em Psicologia Social
Assessora do Projeto Comandante de Companhia – Marinha do Brasil

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