CASADOS A PRIMEIRA VISTA



A dificuldade que muitos homens e mulheres encontram no momento em que vão buscar conhecer um (a) parceiro (a) para manterem uma união estável é estarrecedora e pode até mesmo fazer com que uma pessoa desista para sempre de realizar este sonho: casar-se e ter alguém que a (o) faça feliz. No Brasil, o número de separações ou divórcios é enorme e este índice faz muita gente desanimar de que um dia este sonho possa se tornar realidade. Quais seriam as possíveis causas de se ter um relacionamento infértil? Ciúmes? Possessividade? Agressividade? Desrespeito? Falta de amor? Ou a complexa maneira de viver um relacionamento íntimo com alguém? 


Pois bem, nos Estados Unidos desde 2014, um programa de televisão (“Married at First Sight” – “Casados à Primeira Vista”) criou uma espécie de experimento entre três casais que concordam em se casar com um (a) parceiro (a) à primeira vista. Eles são formados a partir de intensa análise e estudo de personalidade por especialistas em relacionamentos afetivos, tais como psicólogos, sexólogos, pastores (ou líderes religiosos), conselheiros de casamento, e especialistas em relacionamentos e comunicação.

O que impressiona são vários fatores:
ü Ter a oportunidade de se relacionar com alguém com características que completam o seu perfil adequado de parceiro (a);
ü Ter a chance de reconstruir sua vida amorosa com um parceiro escolhido especialmente por profissionais;
ü Aprender a respeitar o (a) parceiro (a) diariamente, já que ambos ainda estão se conhecendo;
ü Ser observado e amparado por especialistas, sempre que houver dificuldades no relacionamento (pelo menos, durante o experimento, estes especialistas fazem visitas ao casal, presencialmente, ou a distância, e juntos tratam de suas dúvidas e/ou deficiências);
ü Deixar que o sentimento de amor pela pessoa cresça aos poucos, à medida que o relacionamento avança;

ü Construir juntos uma vida a dois, partindo do futuro (isto é, o processo é invertido – começa do fim (casamento) para o início (conhecer alguém)); entre outros.


Talvez, a cultura de cada país interfira tanto no relacionamento, que, é mais fácil pensar que este tipo de estratégia, se existisse aqui no Brasil, atrapalhasse mais do que ajudasse. Nos Estados Unidos há algumas regras de comportamento que são muito diferentes das do Brasil. Por exemplo, dizer “Eu te amo” para o parceiro é sinal de que eles estão realmente comprometidos com a relação e “têm a certeza” de que aquela pessoa é a ideal. Então, eles demoram a expressar o que realmente sentem por medo mesmo de saírem feridos da relação. Os americanos são muito mais “frios” nos relacionamentos, tanto o homem quanto a mulher. Eles não abrem seus sentimentos tão facilmente, sempre escondem o que sentem, mas, aos poucos, se abrem um para o outro, por isso, é que fica mais difícil de saber o que o outro pensa, caso não haja comunicação e diálogo aberto entre eles. Sentem-se incomodados quando conversam sobre sexo ou assuntos pessoais que possam comprometê-los perante as pessoas ao redor.
É muito difícil acreditar que tal experimento possa ajudar pessoas a acharem seu “par perfeito” ou sua “alma gêmea”, justamente porque são especialistas que escolhem o seu (sua) (a) parceiro (a) e não você. No entanto, o que se percebe, é que assistimos às várias dicas de como um relacionamento pode dar certo, mediante a observação e supervisão dos especialistas, frente à maneira pela qual cada casal expressa suas emoções e se comporta perante o outro em cada situação ou dificuldade de manter a relação durante este experimento. As dúvidas sobre como lidar com o parceiro, pequenas inseguranças e medo, como se comunicar com o (a) parceiro (a), como equilibrar a vida de casado com seus parentes próximos (pai, mãe, irmãos, sobrinhos), encontros frequentes com os especialistas, dicas e orientações que cada parceiro recebe sobre o outro, como eles lidam com o experimento, entre outros assuntos, fazem parte das conversas. 

Mais de quarenta mil pessoas são inscritas para que apenas seis solteiros sejam escolhidos para participarem do programa que é televisionado ao mundo inteiro.
Dra.Pepper Swartz e pastor Calvin Roberson
Será que você teria fôlego para aventurar-se em um relacionamento amoroso desse nível, a ponto de você ter suas emoções expostas, medos, inseguranças, em rede internacional? Inicialmente, a expectativa destes solteiros é grande: “Meus amigos já me incluíram em aplicativos de relacionamentos para que eu conseguisse namorar alguém”; “Detesto voltar pra casa, depois do trabalho, me sentindo só”; “Estou pronto para me casar”; “Eu quero ter uma pessoa que possa estar comigo para o resto da minha vida, e que seja minha melhor amiga”; “Há chances reais de eu me apaixonar por alguém neste experimento”; “Eu quero muito estar apaixonada por alguém”; “Eu quero muito me casar, mais do que qualquer coisa nesta vida”; “Eu quero muito encontrar a mulher dos meus sonhos”; “Eu quero muito formar uma família”. Contudo, os especialistas já deixam claro que, “se você é alguém que costuma dizer que tudo está em ordem contigo, e que

não há nada de errado, do tipo, Eu sou o que sou, estou feliz comigo mesmo assim, não preciso mudar nada, então, este experimento não serve pra você. As pessoas precisam estar abertas às mudanças”, relata a sexóloga, socióloga e escritora da Universidade de Yale, nos Estados Unidos, Dra.Pepper Swartz. “Nós sabemos da tamanha responsabilidade que é unir um casal neste tipo de experimento, pois, eles serão parceiros para o resto da vida, e as decisões que tomarmos, mudarão a vida destas pessoas pra sempre”, diz o pastor Calvin Roberson, palestrante motivacional, conselheiro  espiritual e matrimonial.  “Meu objetivo aqui é fazer com que os casais saibam se comunicar e se comportar bem um com o outro, como um casamento comum deve ser”, acrescenta.

A PhD Dra. Jessica Griffin, psiquiatra e pediatra pela Escola de Medicina da Universidade de Massachussets, nos Estados Unidos, e Diretora Executiva do Centro de Treinamento para Crianças com Traumas (especialista em maus tratos em crianças, abuso infantil, e avaliação psicológica nos casos tratados na Vara da Infância e Juventude, além de atender clinicamente casais e familiares em conflitos), tem como função promover ajuda nos relacionamentos problemáticos entre os casais durante o experimento dentro da sua área de atuação. Por isso, seguem abaixo alguns conselhos sugeridos pelas famílias dos cônjuges, pelos especialistas e pela própria reflexão e conclusão de cada participante sobre como ter um relacionamento feliz: 

  • O pai da Mia - “Relacionamentos são como ler um livro: se
    você só ler o início e o fim dele, você não vai saber o que há lá dentro. Você precisa ler o livro com detalhes para entender todo o contexto. É assim com as pessoas também. Olhar somente para a “superfície” (as primeiras impressões) é algo bacana, mas, só é válido até você chegar ao ponto de conhecê-las melhor”.
  • A família de Mia - “Responda às perguntas do (a) seu (sua) parceiro (a) com a maior honestidade possível, para que ela (ele) tenha uma ideia sobre o que você pensa ou sente”; 
  • Danielle - “Eu acho que você foi criado para sustentar a família
    e a esposa, mas eu não penso assim como você. Eu também quero contribuir financeiramente, mantendo meu trabalho fora de casa”.
Bobby – “Apesar de eu ter vindo de uma família tradicional, tendo minha mãe e minha avó como donas-de-casa, seja lá o que você quiser fazer, eu quero te ajudar a conquistar os seus objetivos. Mesmo após o término desse programa, eu quero continuar casado com você e que você se torne a minha eterna esposa”.
  • Amber and Dave 


Amber - “Por mais que você seja uma pessoa religiosa, não espere que eu mude por causa de você e sua religião”. 



Dave - “Uma das coisas que nós temos a habilidade de fazer é discutir assuntos de forma madura, e a cada conversa que temos, contamos com o apoio um do outro. O seu sorriso me faz sorrir também”. 

“Agora que somos um casal, nós deveríamos combinar como nós faremos a divisão financeira da casa. Não somos mais aquelas pessoas que pensam que, sou eu gastando o meu dinheiro e você gastando o seu dinheiro, mas sim, como nós poderemos gastar o nosso dinheiro juntos.”
Amber e a Dra. Pepper Swartz – “Dave me disse ontem que ele gosta de mulheres altas e morenas, coisa que eu não sou. E isso ficou na minha cabeça e não paro de pensar nisso. Será que ele realmente está atraído por mim?”
Dave – “Bom, é claro que todo mundo tem suas inseguranças, mas, eu acredito que são coisas que podemos resolver e avançar no relacionamento. Há muitas outras coisas que eu gosto nela e estou completamente comprometido com esta experiência e encontrar as razões pelas quais nós fomos unidos. Eu me importo muito com você, e eu sou muito feliz da maneira que você é”.

  • Tristan – “Ontem à noite você ficou chateada comigo por eu ter dito ao Dave que eu estou reconstruindo minha confiança em você e em nosso relacionamento. Não disse a ele que você mentiu pra mim. Eu só queria alguém para conversar e isso significa muito pra mim, porque ainda há uma nuvem que paira no ar sobre o nosso casamento pelo que nos aconteceu”.


Mia – “Eu acredito que, para o nosso relacionamento avançar e para retirar essa nuvem negra que está sobre nós, e manter nosso relacionamento consistente, só mesmo muito tempo, confiança e comunicação, mas, basicamente tempo mesmo. Eu nunca me apaixonei assim tão rápido, mas, eu estou comprometida a fazer com que este casamento dê certo”.


Será que podemos dizer que esta é uma opção segura para quem está decepcionado demais com as relações amorosas? Será que esta é uma solução cabível para que a felicidade plena chegue após tantas frustrações? É difícil afirmar com precisão, mas, quem sabe, não é mesmo? 


Por

Cristiani Seixas Alves Bartha
Primeiro-Tenente da Reserva de 2ª Classe da Marinha do Brasil;
Pós-Graduada em Planejamento, Implementação e Gestão de Cursos em Educação a Distância;
Pós-Graduada a nível de Especialização em Linguística Aplicada voltada para o Ensino de Inglês como Língua Estrangeira para a Sala de Aula;
Professora, Revisora, Tradutora e Intérprete de Português/Inglês; e
Graduada com Licenciatura em Letras Português/Inglês.

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