SEXO E SEXUALIDADE

Se olharmos pelo lado da história da sociedade, é possível perceber exatamente as razões pelas quais muitas das vezes temos vergonha ou não sabemos como dialogar sobre esse assunto, principalmente sobre o sexo. A Doutora Maria de Fátima Araújo, Psicóloga e Professora da Universidade Estadual Paulista, explica em seu artigo sobre “Amor, casamento e sexualidade: velhas e novas configurações”, que desde o século XVII, houve a instauração de regras e normas apoiadas em várias instituições como a religiosa, a judiciária, a pedagógica e até mesmo a médica, no sentido de reprimir ou mudar a nossa maneira de sentir, refletir, pensar, falar e agir sobre a sexualidade. Além disso, em cada sociedade e em cada família, pensa-se a atividade sexual com base nos valores e ideologias predominantes de sua cultura (Araújo, 2002). No Brasil, o assunto é ao mesmo tempo inibidor, talvez para as pessoas com maior idade, que vivenciaram a época de repressão ao sexo, em que o sexo é apenas para a procriação e não para a liberação de emoções, tornando-se um assunto vergonhoso e imoral, e aberto porque a divulgação e estimulação ao ato sexual acontecem nas novelas, nos filmes e agora, com o avanço das redes sociais e da internet, o acesso às cenas é liberado, na maioria das vezes, aguçando a curiosidade, principalmente dos mais jovens. Observe o que está escrito na letra da música da cantora Rita Lee:
 “(...) Sexo é esporte / Sexo é escolha / Amor é sorte (...) / Amor é novela / Sexo é cinema / Sexo é imaginação, fantasia / Amor é prosa / Sexo é poesia / (...) Amor é divino / Sexo é animal / Amor é bossa nova / Sexo é carnaval / Amor é para sempre / Sexo também / Sexo é do bom / Amor é do bem / Amor sem sexo, é amizade / Sexo sem amor, é vontade / Amor é um, Sexo é dois / Sexo antes, amor depois / Sexo vem dos outros, e vai embora / Amor vem de nós e demora (...)”. (Do álbum Balacobaco, produzido por Roberto de Carvalho e o DJ Memê em 2003.)
A nossa geração de pais acredita que pode falar tudo com os filhos. Entretanto, há assuntos que seria melhor que eles conversassem entre os amigos. Tal atitude demonstra maturidade. A curiosidade surge em cada fase da vida dos adolescentes. Um bom momento para os pais trazerem o assunto sobre sexo para dialogar seria quando os filhos pedissem informação e aconselhamento, que é quando os pais entrariam com a orientação. É importante para os filhos que os pais os ouçam, porque a maioria deles não conversa sobre isso com seus filhos. Caso seja feita uma pergunta e o pai e/ou a mãe não saibam responder, é interessante falar, por exemplo: “Filho, não sei responder isso ... Tenho vergonha, mas quero conversar com seu pai e/ou sua mãe, amiga (o), psicóloga (o) também. Acho que ele (a) poderá explicar e esclarecer melhor sua dúvida.” Não é vergonha passar para os filhos se não se sente à vontade de falar sobre isso. Por que não pode sugerir que outrem o faça? O importante é que as dúvidas e as incertezas sejam esclarecidas e sanadas. Os momentos do diálogo devem ser naturais e não artificiais. Os naturais são quando surgem os pretextos, e convenhamos que diariamente há motivos suficientes para pontuar o tema sexo entre os filhos.
Normalmente, os jovens buscam informações pela internet e nem sempre são fidedignas. Por isso, é fundamental que as abordagens deste assunto pelos sistemas educacionais para alunos de todas as idades e em casa aconteçam. No entanto, algumas escolas temporariamente não estão preparadas para oferecer palestras, aulas, semana de prevenção ao sexo, redações, entre outros meios para tal assunto ser discutido, ensinado e orientado. Por exemplo, o assunto beijo é uma curiosidade entre os pré-adolescentes. Os colégios são instrumentos veiculadores de informações e precisam entender que o sexo não é só para a aula de biologia, embora a sexualidade esteja ligada à promoção da saúde.  
Por isso, a desinformação pode levar a doenças sexualmente transmissíveis como, por exemplo, a AIDS, o abuso sexual e à gravidez indesejada. A ação da escola deve ser o complemento dado pela família e, assim, deverá informar à família a inclusão do conteúdo de educação sexual como proposta curricular e explicar os princípios norteadores dessa proposta, visando apresentar os riscos, as desvantagens e as vantagens de se ter uma qualidade de vida com prazer, necessidades físicas e emocionais, autoestima e confiança. O ideal é que os pais e as pessoas em geral saibam separar o sexo de sexualidade. Vejamos um trecho de outra música, “Mania de você”, que contém uma mensagem sexualizada:
“Meu bem você me dá água na boca / vestindo fantasias, tirando a roupa / molhada de suor de tanto a gente se beijar / de tanto a gente imaginar loucuras / (...) nada melhor do que não fazer nada / só pra deitar e rolar com você!” (CARVALHO, Roberto de; LEE, Rita, 1979)
Dessa forma, tratar o aspecto sexual, mas também o afetivo amplia a ideia de sexualidade humana, para além da relação sexual propriamente dita. O sexo está ligado ao encontro, desejo, corpo, e também com o biológico. A sexualidade está ligada a valores e princípios que podem ser transmitidos através do exemplo, do respeito a si mesmo e ao outro desde pequeno, para ser praticado na adolescência e na fase adulta, quando inicia a vida sexual.
É na sexualidade e nas expectativas sobre os relacionamentos que a suavidade na relação se construirá. A experiência se altera para cada sujeito através de seu contínuo engajamento na realidade social. Isto quer dizer que, de acordo com a relação que você constrói com o seu parceiro (a), você deve ter segurança e confiança na relação a dois, sem precisar deixar de fazer as coisas de que gosta. Sobre essa perspectiva, é importante ressaltar que qualquer um de nós, mas principalmente o jovem, não deve deixar de fazer as coisas de que mais gosta só para se tornar uma pessoa inserida num determinado grupo social. É preciso que mantenhamos nossa identidade, porém, com respeito às diferenças de todas as pessoas na convivência dos tipos de relacionamento que tivermos.
Para o jovem, a educação sexual permite compreender o desejo, entender o envolvimento físico carregado de afeto, ou seja, como se dá esse processo. Não se pode banalizar o ato sexual. Atualmente, os jovens solicitam silenciosamente por informação e certa direção sobre o que fazer. É preciso aprender a diferença entre amor e sexo (sugerimos o leitor a acessar outra matéria deste blog – SEXO OU AMOR (clique aqui) O jovem bem informado saberá fazer boas escolhas. Durante esse processo de aprendizado e autoconhecimento do assunto, a colaboração entre a educação familiar, junto da instituição escolar, torna o jovem realizado como pessoa, sexualmente. Se ele não tiver aprendido isso na adolescência, ele não será um adulto bem resolvido afetiva e sexualmente. A tendência de trocar de parceiro (a) a toda a hora, ou o desejo de ter relacionamento com várias pessoas ao mesmo tempo, e/ou se orgulhar de ter se relacionado com grande quantidade de parceiros (as) podem ser consequências de alguém que não obteve adequada orientação sexual. Muitas das vezes, a pessoa tem tudo o que precisa para ser feliz e satisfeito, mas ela não dá o verdadeiro valor por não ter recebido tal informação à época. É preciso encontrar uma pessoa que te realiza.
Por fim, abordar esse assunto possibilita o jovem a obter informações e reflexões acerca de todos os aspectos que envolvam a sexualidade. Cabe à escola não apenas ensinar, mas formar o cidadão consciente de seus atos. A orientação sexual envolve diversos assuntos, tais como: repressão, preconceito, amor, prazer, família, vida , entre outros. A família tem como função dialogar e prevenir. Assim, o modismo de liberação sexual será explicado e compreendido com louvor, ou seja, a família e a escola deverão caminhar lado a lado nesse processo educacional, objetivando formar adultos responsáveis em suas escolhas, pois esse tema está presente nas músicas, nos programas de televisão, em festas, filmes, novelas e nas conversas entre amigos. Então, tanto o pai quanto a mãe, e inclusive a escola, não podem fugir e/ou evitar falar deste assunto.

Sugestão:
Assistam o filme JACK, com o ator Robin Williams e direção de Francis Ford Coppola (1996). O filme conta a história de Jack, um menino que nasceu com uma síndrome rara que o faz envelhecer quatro vezes mais rápido que o normal. Com idade mental de criança, mas com corpo de homem, Jack vive várias situações inusitadas na escola.









REFERÊNCIAS:
Amor e Sexo. Disponível em: WIKIPEDIA Acesso em 11 ago. 2017.

Amor e Sexo. Letra e música disponíveis em: LETRAS.COM Acesso em 11 ago. 2017.

ARAÚJO, Maria de Fátima. Amor, casamento e sexualidade: velhas e novas configurações. Artigo publicado na Revista Psicologia Ciência e Profissão, vol. 22, no. 2, Brasília, 2002. Disponível em : SCIELO Acesso em 14 ago. 2017.

JACK. Disponível em: JACK Acesso em 14 ago. 2017.






Por

Rejane Romero
Pedagoga
Assistente Social
Palestrante
Especialização em Psicologia dos Distúrbios de Conduta
Mestre em Psicologia Social
Assessora do Projeto Comandante de Companhia – Marinha do Brasil

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