O BEIJO NA BOCA

          Casais que não beijam na boca estão se separando. Vão se tornando amigos, parentes, irmãos até se esqueceram de caminhar de mãos dadas. Vão se apartando do cheiro da pele, do gosto do abraço, das provocações infantis de corredor, das pernas alisadas no fundo da coberta.
         O beijo na boca é a autêntica aliança, o ouro que vinga, a certidão que não desbota. Só que me refiro ao beijo mesmo, de girar o corpo, o pescoço, o rosto. Selinho não conta, onde os lábios são uma carta para quem já está distante. Beijo seco também não vale, onde não há ameaça de morder os lábios. Beijo molhado é o que une. Um beijo úmido por dia renova o amor.
       O beijo de quem tem saudade dos tempos apaixonados, um beijo que ainda sopre de volta os elogios ditos um para o outro. O beijo sussurrado, em que os sons tremem com as respirações próximas. Beijo que não tem a necessidade de ser pensado demais senão surge sem jeito, forçado, cinematográfico.
      O beijo que seja um segredo a dois, que você extravie o horário e suspenda a noção do lugar.
       O beijo que toque uma canção dentro, que desperte a vontade de dançar.
      O beijo de língua não permite o vazio crescer, a lacuna, o lapso. Pois uma ausência dentro de casa ainda tem conserto, duas ausências não tem como recuperar - o par esqueceu o amor em algum lugar das lembranças e não correu para reaver.
      O beijo de língua desfaz as formalidades, os medos, a educação que esfriam a relação.             Beijo de língua é beijo para combater o tédio, mecânica repetida dos gestos.
      Beijo de língua salva os desaforos, perdoa as críticas e as cobranças. É como uma janela batendo com a chegada da chuva, uma porta batendo com o vento. É um susto que põe o coração a bater de novo.



            Nem o sexo resolve o que o beijo faz. A transa sem beijo é apenas desafogo, catarse, apego de bichos. O beijo com língua é o que nos singulariza entre os animais. Casais felizes sempre se buscam pela boca. É uma receita simples de longevidade. Sem o beijo, a pessoa tem a vontade de largar tudo é ficar sozinha. Com o beijo, ela não perde a vontade de largar tudo, mas com a diferença de querer levar junto aquele que ama.

Fonte: Coluna DONNA -  Jornal Zero Hora – 4 e 5 de fevereiro de 2017





Quando há química no ato de beijar, o coração acelera, a respiração fica irregular. O ato de beijar libera o hormônio do amor, ocitocina. Beijar auxilia a nutrir o relacionamento e poderá perdurar conforme a manutenção e intensidade.
Rejane Romero


Comentários

  1. Belíssimo e verdadeiro o texto. Particularmente sempre quis um homem assim. Encontreisso ma me maltratou tanto que não quero nem selinho. Parabéns pela abordagem segura e acessível. Obrigada

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  2. Exatamente. Mas, perfeito que isso, só isso. Parabéns Dra. Rejane.

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