A MULHER PROFISSIONAL: COMPETÊNCIA E SERIEDADE NA FLUÊNCIA ORAL DE UMA LÍNGUA ESTRANGEIRA

Revivendo os áureos momentos de quando as mulheres, principalmente, a partir da década de 60, conseguiram se libertar da escravidão masculina em várias áreas (direito ao voto, ao trabalho, representação política feminina, participação nas Forças Armadas, durante a Segunda Guerra Mundial, escritoras, igualdade de condições no casamento entre marido e mulher, etc), um pensamento corrói a mente: Então, é isso? Este é o fim para as mulheres? Se compararmos as lutas das mulheres naquela época com as de hoje, parece que elas já conquistaram tudo o que puderam: ser Presidente, Chefe de Departamento com subordinados apenas homens, Delegadas de Polícia, Juízas, Ministras, Diplomatas, cantoras de sucesso, artistas fenomenais, militares, divorciadas, separadas, ou viúvas, mas, independentes de seus maridos, única fonte de renda da família, são alguns exemplos de perseverança, com muita luta e dor, mas, felizmente, de muito sucesso. Então, podemos concluir que as mulheres já conquistaram tudo o que queriam! 
Na verdade, o perigo não está em alcançar objetivos ou sonhos de forma igualitária e democrática para as mulheres de uma forma geral, mas sim, é preciso atenção quanto à perda da energia vital toda vez que alguém se sente plenamente confortável com a maneira como as coisas estão, de forma acomodada e passiva. Cortella (2006) indaga sobre a satisfação plena, quando há sentimento de conclusão, encerramento, ação terminada, finda, não deixando margem para a continuidade, para o prosseguimento, para a persistência, da seguinte forma: “(...) Por isso, quando alguém diz “fiquei muito satisfeito com você” ou “estou muito satisfeita com teu trabalho”, é assustador. O que se quer dizer com isso? Que nada mais de mim se deseja? Que o ponto atual é meu limite, e, portanto, minha possibilidade? Que de mim nada mais além se pode esperar? Que está bom como está? Assim seria apavorante; passaria a ideia de que desse jeito já basta. Ora, o agradável é quando alguém diz: “teu trabalho (ou carinho, ou comida, ou aula, ou texto, ou música etc.) é bom, fiquei muito insatisfeito e, portanto, quero mais, quero continuar, quero conhecer outras coisas.” (p. 12)
Por este motivo, movido por tal interesse e iniciativa de continuidade, e de se aventurar no desconhecido, é que se percebe a utilidade de aperfeiçoamento em alguma habilidade diferente da rotina de trabalho. Por exemplo, para quem aprecia uma boa culinária, aprender Gastronomia seria uma ótima escolha. Para quem gosta e está habituado a viajar, cursar uma segunda graduação como Turismo, não seria má ideia. Para os amantes de Fotografia, por que não se aprofundar nas técnicas que envolvem tirar uma excelente foto? 
Aprender um segundo idioma também faz parte da maioria das listas de habilidades que as mulheres almejam dominar. Em muitos casos, adquirir tal competência é acesso direto à promoções ou viagens inesquecíveis, mesmo sendo somente a trabalho. Mesmo assim, quando a mulher se expressa em um idioma estrangeiro, ela sente-se mais confiante e sempre desafiadora, pois, comunicar-se verbalmente tem sido uma das dificuldades mais constantes nesse cenário. 
O ato de se expressar em um idioma em que a maioria das pessoas não sabe ou tem dificuldade, compreende, mas não consegue comunicar-se, traz muita responsabilidade e exigência de si próprio. A responsabilidade baseia-se na capacidade de comunicar-se com estrangeiros, com fluência suficiente, natural e livre, para ser entendido e compreendido, usando talentos naturais inerentes a cada pessoa, suas experiências, e convivência constante com boa linguagem (Luft, 1995), sendo o mais correto possível, atuando com maestria, singela, praticidade e harmonia. É um peso que a mulher carrega dentro dela, pois, sempre fora alvo de massacre moral e intelectual, mas que naquele momento, ela pode mudar o seu rumo e provar para si mesma e para os outros até onde ela é capaz de chegar com naturalidade, proficiência e desenvoltura, próprias da função. E, cá pra nós, a função de intérprete ou tradutora para a mulher encaixa-se lindamente por causa da energia ímpar e de sua postura elegante e confiante. A mulher que se comunica fluentemente em inglês transmite sua mensagem com liberdade, autonomia, expressando-se de maneira clara e eficiente, é livre para expandir sua criatividade lingüística, aperfeiçoando sua capacidade de comunicação, para que o receptor a compreenda com fluidez e da maneira adequada. Onde houver prática oral de um idioma vivo, não para exaltar quão brilhante a pessoa domina as estruturas gramaticais de uma língua estrangeira, mas para saber compreender e repassar tal conhecimento de suas gírias, dialetos, neologismos, estrangeirismos, entonação, pronúncia corretamente e com fluidez, os quais podem danificar a compreensão e a interpretação de um assunto, se mal interpretado ou erroneamente traduzido, a mulher deve manejá-lo bem para sentir-se “(...) amo e senhor dela [a língua], não seu servo humilhado e inseguro” (Luft, 1995). Por outro lado, conhecer outra cultura vai exigir muito de você mesmo. Não é somente o fato de conhecer uma cultura nova, mas também de repassá-la aos outros. Quando entendemos a cultura de um país para nós mesmos é uma coisa, agora, ao ter que representá-la na frente de outros ao realizar uma tradução simultânea ou não, a tarefa é mais árdua do que se pensa. É como muitos alunos dizem sobre um professor: “É notório que ele possui muito conhecimento, mas ele não consegue passar aquilo que sabe para os alunos.” Por isso, em tudo o que fazemos, devemos sim, nos apropriar de estudos e pesquisas elevados, mas, ao mesmo tempo, é preciso ter domínio da oralidade a fim de expressar-se bem em público, passar o que sabe para os outros com criatividade, bom-humor, simplicidade, objetividade e segurança.
Uma das profissões que bem dominam a prática diária da oralidade com firmeza e realidade é a militar, uma carreira que tem por incentivo a promoção e o desenvolvimento constante de características de personalidade inerentes à carreira. Aguçado senso de responsabilidade, pontualidade, saber receber e acatar as ordens determinadas e ainda ser organizado ou conseguir coordenar tarefas e ações que possam exigir um método, uma boa ordem e disciplina, são algumas delas. Aquela mulher batalhadora e inquieta por alcançar igualdade de condições para homens e mulheres da década de 60 alcançou acesso às Forças Armadas.
 Maria Quitéria de Jesus Medeiros foi a primeira brasileira a integrar uma unidade militar onde lutou pela manutenção da Independência do Brasil. Ela alistou-se no regimento de artilharia, como soldado Medeiros, depois foi transferida para a Infantaria e passou a integrar o Batalhão dos Voluntários do Imperador, em 1822, mostrando, dessa forma, a força do gênero considerado por alguns como frágil. Pelo seu entusiasmo e bravura, Maria Quitéria conquistou o respeito dos companheiros e recebeu de D.Pedro I a insígnia de Cavaleiro da Ordem Imperial do Cruzeiro. Em junho de 1996, por meio de decreto da Presidência da República, a mulher-soldado passou a ser reconhecida como Patrono do Quadro Complementar de Oficiais do Exército Brasileiro.
Missão não menos nobre, mas, que exige abnegação do “(...) aconchego e convivência familiar pelo desconfortável e desconhecido”, relata a coronel Carla Beatriz Medeiros de Souza Albach, do Quadro Complementar de Oficiais do Exército. 


Coronel Carla chefiou a Seção de Intérpretes do Batalhão 
do 17º Contingente da Missão das Nações Unidas para Estabilização do Haiti
Foto: Arquivo pessoal

Em 2010, Carla chefiou a Seção de Intérpretes do Segundo Batalhão do 17º Contingente da Missão das Nações Unidas para Estabilização do Haiti (MINUSTAH). O batalhão foi enviado ao país caribenho após o terremoto ocorrido em janeiro daquele ano. A Coronel Carla relata que, ao chegar ao Haiti, se deparou com o desafio de fazer a transição de batalhão operacional para núcleo de desmobilização, já que, naquele momento, a ONU resolvia iniciar o processo de retirada gradativa de suas tropas daquele país. Profissional de magistério, do idioma inglês, Carla conta que aproveitou para usar suas habilidades de tradutora-intérprete em um ambiente plural, onde várias culturas, raças e credos estavam unidos por um objetivo comum. Para a Coronel, participar de uma missão de paz foi o momento de testar e colocar em prática, como militar, tudo o que aprendeu ao longo de sua carreira. “Considero uma das mais acertadas escolhas da minha vida profissional e pessoal”, declara.
Duas posturas que mais chamam a atenção nos exemplos acima citados são as “(...) atitudes que sustentam uma conduta de confiança e comunicabilidade.” (Turnbull, 2009, p. 55) O autor argumenta que, além de preparar as pessoas para um mundo em mudanças – como, por exemplo, aprender a ser fluente em inglês ou trabalhar nas Forças Armadas, atividades que demonstram muita dedicação e habilidade em constantes práticas e experiências, além de estar em constante atualização – é preciso aprender a trabalhar num ambiente onde a mudança é praticamente tudo de que podem ter certeza. Mudança aqui se refere a sair do seu lugar de conforto e ir em direção ao desconhecido, no que diz respeito à mudança de atitudes, aprender novos hábitos, conhecer pessoas novas, aprender a comunicar-se com outras pessoas, em uma língua estrangeira, principalmente se você não é um profissional da área de idiomas ou militar. E isso a mulher tira de letra já que para ela, mudanças ocorrem gradativamente, à medida de suas escolhas ou agruras que a vida pode lhe proporcionar, seja de solteira passar à condição de casada, e depois mãe, profissional independente entre outras, e ter que equilibrar tudo isso ao mesmo tempo, já que para essas coisas não há muita preparação, a vida mesmo se encarrega de ir ajeitando isso. 
No que se refere à comunicabilidade, a carreira militar é um exemplo que exige prática constante da oralidade, como uma característica inerente á função exercida: dar ordens, comunicar-se brevemente, mas com clareza e objetividade constantes, apto a mudanças regulares e contínuas (como no caso de trocas de comando e de funções), participar de representações, inclusive com autoridades estrangeiras, conhecedor profundo da história de seu país a fim de transmiti-la eficazmente a outros, enfim, são alguns exemplos de atividades de responsabilidade pessoal que fazem da boa comunicabilidade prática e experiência diariamente constantes. Por outro lado, o militar que não possui boa comunicabilidade enfadonha toda a sua tropa e não consegue transmitir objetividade sobre aquilo que se pede. Os resultados são inexpressivos e seus subordinados não sentem confiança e segurança de comando. E assim também ocorre para alguém que traduz e fala um segundo idioma. A voz deve ser segura e transmitir confiança para a platéia que assiste. Mesmo quando ocorre um erro de interpretação ou de tradução, e se a pessoa na mesma hora corrige e acerta, a tradução ou a fala não se perdem. Na verdade, o que não pode se perder é a fluência e a consistência das informações na mensagem, mesmo que haja interrupções desse tipo ou outras interferências. Então, boa comunicabilidade, agilidade, postura firme e voz segura, confiança no seu trabalho e muita auto-estima, sabendo o que se quer alcançar para atingir um propósito são marcas de confiabilidade no exercício desta atividade. 

Por isso, a mulher que domina um idioma fluentemente possui a iniciativa e a bravura de interpretar e traduzir corretamente o que se é dito. Ela deve possuir firmeza naquilo que está expressando, ou seja, transmitir confiança e segurança na escolha das palavras e do vocabulário mais adequado para o objetivo fim do qual se deseja atingir. Também, ela deve mostrar-se pronta para traduzir ou falar com estrangeiros, não esperando que ela seja chamada para tal, mas, ter a iniciativa na presteza do serviço. O profissional de tradução que possua fluência em um determinado idioma deve transmitir sua mensagem de maneira real, usufruindo da realidade das expressões utilizadas por nativos estrangeiros, a fim de que o contexto não seja distorcido, mas traduzido adequadamente. Por exemplo, é muito comum o uso da expressão “How are you?” (“Como você vai?”) em inglês para cumprimentar as pessoas. Se apenas a mulher memorizar esta única expressão, certamente ela terá dificuldades em compreender quando um estrangeiro qualquer se aproximar dela e perguntá-la: “How are you doing?” (“Como você está indo?”, popularmente traduzido como “Como você vai?”) Na verdade, as duas expressões estão corretas quando cumprimentamos as pessoas, porém, a segunda é muito mais comum, ou seja, muito mais utilizada pelas pessoas estrangeiras que dominam o inglês, principalmente os nativos. Dessa forma, é importante que o tradutor ou o intérprete produza uma atmosfera de intercâmbio, trazendo para aquela reunião ou visita, o ambiente natural das pessoas que falam aquele determinado idioma, como se estivéssemos inseridos naquele contexto cultural e original do estrangeiro, replicando-o com a maior naturalidade e realidade possíveis.
“Ter clareza e confiança na sua identidade significa que você é capaz de usá-la como ponto fixo a partir do qual pode desenvolver a flexibilidade mental e comportamental que o habilita a lidar em um [ambiente novo.] (...) Pensar na sua identidade em termos de quem você é e no seu comportamento em termos de o que você faz facilita o reconhecimento de que o seu comportamento é algo que você pode mudar de forma a aumentar as suas condições de realização bem como as daqueles que estão a sua volta.” (Turnbills: 2009, p. 56) E quando a gente sabe quem nós somos, o céu é o limite. Por isso, seguem abaixo alguns fatores positivos sobre em que saber falar um idioma pode facilitar e influenciar várias áreas da vida da mulher. Você:


  • se torna um referencial para as outras pessoas;
  • ao realizar uma tradução ou comunicar-se de maneira satisfatória, sente-se confiante e verdadeira consigo mesma, porque conseguiu entender-se e se fazer entendida;
  • se surpreende com suas próprias realizações;
  • é motivada a continuar aprendendo, já que o idioma sofre constantes atualizações de gírias, normas, novas palavras são criadas;
  • para a família, se torna um exemplo de organização e equilíbrio, pois falar um segundo idioma requer estudo e muita prática;
  • adquire cultura, informação de qualidade, próprias do nativo daquele idioma;
  • alcança confiança das pessoas;
  • aumenta o seu círculo de relacionamento social, pois muitas pessoas convivem com você, seja em eventos, em reuniões ou em visitas com estrangeiros;
  • obtém novas oportunidades de trabalho;
  • aumenta sua produtividade criativa de realizar projetos educacionais ou de competência administrativa, dependendo da área de interesse;
  • amplia sua rede de contatos a distância (networking), aproveitando-se das vantagens do avanço dos recursos tecnológicos;
  • torna-se mais consciente de seus atos de cidadania e interfere na qualidade de suas ações para melhorar o mundo ao seu redor;
  • fica mais suscetível a ajudar pessoas em geral;
  • enfim, é mais feliz!



REFERÊNCIAS:


CORTELLA, Mario Sergio. Não nascemos prontos! Provocações Filosóficas. 16 ª ed. Petrópolis, Vozes, 2013.

LUFT, Celso Pedro. Lingua e Liberdade: Por uma nova concepção da língua materna. 4ª ed. São Paulo, Ática, 1995.


TURNBULL, Jacquie. 9 Hábitos de Professores Altamente Eficientes. Tradução Ricardo Silveira; Leitura crítica e adaptação Luciana Piatero. São Paulo, Special Book Services (SBS), 2009.


A História da Mulher no Exercito. Disponível em: ministério do exército Acesso em 26 dez. 2016.


História de mulheres nas Forças é repleta de lutas e conquistas. Disponivel em: Ministério da defesaAcesso em 26 dez. 2016.



Artigo escrito por: 



CRISTIANI SEIXAS ALVES BARTHA
Primeiro-Tenente da Reserva de Segunda Classe da Marinha e do Quadro Técnico

Graduada e Licenciada em Letras Português /Inglês pela UERJ - Faculdade de Formação de Professores (FFP)

Especialista em Linguística Aplicada voltada para o Ensino de Inglês em Sala de Aula pela UFF

Pós -Graduação em Planejamento, Implementação, Gestão de Cursos a distância pela UFF



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