HOMENS TAMBÉM SOFREM POR AMOR

 _Quando o ser-homem está relacionado à coragem de abrir o coração_

Ao falar sobre o sentimento emocional entre duas pessoas, quase sempre (ou sempre) atrelamos essas sensações exclusivamente às mulheres. O inconsciente coletivo de uma sociedade machista não deixa dúvida de que macho que é macho não sofre de amor, muito menos expõe seus sentimentos tão fáceis assim. Puro engodo. Mas, por que a sociedade julga o comportamento sentimental dos homens? Por que eles são generalizados pela apatia na relação, como alguém que estivesse dentro, mas sentimentalmente fora? De fato, aparentemente, a mulher demonstra ser muito mais sentimental, mas isso não significa que a grande maioria dos homens é insensível.

            Observando, portanto, o comportamento “homem de ser” na sociedade histórico-moderna, pude constatar que homens são sentimentalmente frios mais por uma conduta social de preservação da autoimagem masculina, do que pelo sentimento em si. Nessa perspectiva, um homem admitir sua sensibilidade no amor requer antes de tudo coragem, pois certamente logo alguém colocaria em jogo sua sexualidade ou informaria que isso é coisa de “mulherzinha”. 

            Sustentar, então, essa tal aparência – e me desculpe os que cantam de galo e batem no peito pra dizer que são indiferentes as emoções sentimentais – provavelmente diz respeito à homens que não são bem resolvidos quanto a sua masculinidade. Mas pra manter a falsa imagem, talvez isso resolva um pouco. 

            Historicamente, fomos aprendendo que a preservação da imagem era mais importante que os nossos sentimentos. Por isso manter-se indiferente e frio na relação a dois tinha a ver com questões de superioridade de gênero. E era assim que deveríamos ser vistos, superiores, fortes e insensíveis. Desde muito cedo, nos formaram para ser apático na relação com uma mulher, e qualquer coisa que nos assemelhasse a elas (mais sonhadoras, mais românticas e sentimentais), já comprometeria toda nossa masculinidade. Quem não lembra ou nunca ouviu falar do famoso jargão “homem não chora”? Essa, por exemplo, é uma frase típica de uma sociedade machista que possuem homens tão frágeis no amor, que são incapazes de admitir “sofrências”. Portanto, pra ser homem numa sociedade assim, sobretudo, é preciso ter muita coragem pra abrir o coração.

            Ultimamente, tenho andado com gente que se diz homem, mas não o suficiente pra revelar suas desilusões e sofrimentos. Chorar de amor por uma mulher é um verdadeiro colapso, ainda mais se isso acontece na presença de outros homens. Nós, homens, usamos da hipocrisia pra basear nossa masculinidade, e quase sempre conseguimos. Vive-se, portanto, na ilusão de achar que homem é mais razão que emoção, mas que na verdade tudo é o medo de se apaixonar tanto, ao ponto de revelar quão frágil e reféns somos dos nossos sentimentos. 

            Já parou pra pensar por que as mulheres são as maiores vitimas de crimes passionais?  Mulheres sofrem, mas são resilientes enquanto homens adoecem de amor a ponto de praticar violências e crimes contra elas. Vejo homens que no conceito social masculino são verdadeiros frouxos ao se depararem com suas fragilidades no amor. Não suportam serem rejeitados, muito menos abandonados e se utilizam da força pra conseguir algo. Tudo em nome da moral e da honra. Quanta idiotice. 

            No entanto, desconstruir esse ideal masculino, requer tempo para mostrar ao homem que o conceito social de sua postura em relação ao amor possa estar equivocado. Para isso é necessário desmistificar todo um pré-conceito a qual a sociedade criou em torno do gênero masculino discriminando todo tipo de sentimento romântico que ele possa ter. É claro que em termos de comparação, ainda somos muito inferiores em relação às mulheres que se dizem mais sentimentais. Conquanto, mesmo que em minoria, ainda existem homens que são suficientemente bem resolvidos para expor seu coração, seja qual for o tipo de sentimento. 

           

Homens também sofrem. Porém são vitimas de um cárcere sentimental e revelar-se os tornaria plenos, porém subjugados pelo comportamento social comum desconstruindo assim as fortalezas da aparência masculina. Sempre achei que as mulheres são mais plenas, pois vivem o que tem que viver, dizem o que tem que dizer e amam como elas acham que se deve amar. Já os homens são  fragmentados, pois deixam de viver, de amar, de chorar e de ser, simplesmente para demonstrar o que não são: insensíveis.

Por

Jonatas L. Rodrigues

Pedagogo

Militar

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